Poesia vira-lata
Da academia vadia, da rua vazia,
como o percurso solitário da lua,
observado pelo lobo que uiva,
solitário também, mas sem ser só.
Do milagre da uva,
da inspiração da chuva,
do riacho, da canoa, do pescador
e da lavadeira, em sua lavanderia,
às margens dos rios e a céu aberto.
Do interior e do meu interior.
Do curral, do pantanal, do boiadeiro,
do pedreiro que executa o projeto do engenheiro,
mas que nunca é convidado para a inauguração.
Das canções que já ouvi,
das diferentes culturas com as quais convivi,
desde Colatina, apaixonado por Minas,
só é pena Minas não ter mar.
Do navegar, por profissão,
do sonhar, por opção,
do amar -e como eu amei.
Do provocar paixões e também se apaixonar.
Poesia vagabunda, sem raça definida pelas vidas,
assim como um guerreiro apache no xingu.
Da pororoca e da chacota da FUNAI.
Ai, ai, ai, mas como é lindo o Brasil.
Poesia, pura e simplesmente,
cuja semente é a espiritualidade,
de estilo algum e sem cabresto,
no imenso universo das sí-la-bas.
Frutos muitos e frustrações.
E da uva virar vinho.
E do pássaro no ninho.
Cochicha um ventinho,
enquanto o vovô cochila sozinho
e em paz.