VILA

Era a minha estrada nada estranha
Em seus meandros e vislumbres.
Ocorreu, porém, a certa altura
E súbito, de chamar-me a atenção
Uma longa alça do caminho,
Que se arrastava pelo sopé de uma colina,
Alongando a tediosa distância
Sem nenhuma razão de ser,
Ao passo que, pelo outro lado,
Um belo descampado se oferecia
Como atalho lógico e inevitável.
Eis que presto, pus-me por ali.
Contudo, a meio do imaginado
Atalho – não mais vislumbre,
Não mais meandro, não mais estrada –
Magicamente eu me perdera.
Fazer o quê? Seguir adiante. Algo,
Sempre um inefável algo, aparece.
De fato, nem sequer rodara a hora,
Defrontei-me com uma inesperada vila,
A que a estrada não me conduziria,
Por certo, já que luzente e fantástica.
Habitada, sim, por gente de outro afã.
Ali o corpo se nutria de não alimento,
Ali a refrígera água saciava a alma
E a dor doía, mas jamais no corpo.

Um dia, quando houver conquistado
Todo, literalmente todo, o mistério,
Esse será o Grande Império
E eu, o Imperador destronado.
Quando, enfim, eu houver
Decifrado o mistério,
Ter-me-ei tornado
O mistério dos mistérios.

Na memória o passado é o futuro
Que se transmuda, a cada nova recordação,
No que jamais ocorreu
(ou eu ainda não o sabia),
No que ainda é o porvir.
Sem querer, mas por uma Graça,
Eu achei quando me perdi.


03.09.13