COGITO EGO SUM
A me sombrear em imensidades atormentadas
entre egos que regozijam suas emanações cálidas,
me faustuo em um deus de enxurradas turvas,
a tecer minhas gêneses ominosas em efígies vazias.
Cinjo o céu com colorações ciprestes,
e invado a terra com melodias rupestres.
Contenho os rios em minhas margens,
E adorno as flores de jardins suspensos aos ares.
Voo como pássaros cibernéticos,
e rastejo como serpentes viperinas.
Translucideio os cernes dos ilustres,
e verbeio açoites em folhas brancas.
Enredo palavras cândidas em versos incompletos,
e engesso o espelho que reflete minha face esquálida.
Exibo a formosa lenda entre as vielas oníricas,
e me deito com as virgens de todos os reinos.
Pairo nas tempestades e nas brisas,
e esparjo incensos às relvas rasteiras.
Abranjo os cimos dos montes mais altos,
e perscruto os segredos do universo e das possibilidades.
Movimento as inércias mais distantes,
e bebo dos mares mais esplendorosos.
Acalento esperanças fluorescentes,
e esconjuro porvires umbráticos.
E, ao fim, desvaneço-me de meu poder,
degenero-me em meus destroços,
e me apago no amanhã
em que habita o silêncio sempiterno.
Sem pensamentos artificiais
e sem egos ávidos
em vidas que nunca houve.
Péricles Aves de Oliveira