TEATRO DE VIDAS
em meio à ocultação de cores sombrias e desconhecidas,
tudo pareceu se transformar em iminente morte silenciosa,
invisível no mosaico vivo e frágil que lhe foi mostrado.
Poderia dizer dos livros dos mestres enfileirados nas prateleiras,
de outros objetos confusos, dispostos no espaço limitado,
assinalando o belo aspecto da imagem perante os olhos.
Poderia dizer dos cheiros pútridos que escapam de todos os convidados,
em meio às belas vestes em que se mostram na ausência do espelho.
Poderia dizer do relaxamento do rosto diante da frágil brisa,
das tantas imagens apregoadas como magníficas pinturas,
e do tempo que me mostrou cada detalhe trancafiado
atrás do manto puro da crença num Deus maculadamente escudeador.
Poderia até continuar a vomitar sobre tudo minhas entranhas apodrecidas,
que contaminam a grande farsa como um demônio impiedoso;
e da sala poderia violar os quartos onde as cores continuam a se multiplicar,
cada vez mais infames e misturadas, aos sons desarmonizantes da suavidade
paradoxal no estranho ambiente que me recebe com semblantes enganadores.
Poderia ainda dizer da frieza que invadiu meu coração exangue,
e do ágil assentamento de minha mente sobre a macrabidade,
em contaminações mútuas por palavras e promessas enganosas,
que emudecem o espírito perante contornos desconexos e incompreensíveis.
Mas eis o que unicamente posso: enviar ao vento meu último acorde desvairado,
do exato ponto onde perdi a capacidade de ver, entre tantos cantos,
os encantos de tantos bailes onde se faltam rostos e formas transcendentes.
Péricles Alves de Oliveira