As férias em que não saí de casa

Publicando novamente uma poesia que acredito ter excluído ou mudado o título e não consegui encontrá-la nos meus escritos mais antigos (~ 2018)... também com alterações (ou melhoramentos)

Sobre umas férias, acho que no final dos anos 90

Um verão inteiro preso

Dentro de casa

Na imensidão da minha timidez

Do meu mundo paralelo

De imaginação

Intenso, mais forte que o próprio dono

Sua luz me bastava, eu pensava

Quando a sorte era ser só

Meu pobre rapaz

exageradamente honesto

Me viam no meu submarino

Apenas os olhos tristes

O interior de oxigênio

As bolhas de tanto falar

E as palavras não se encontravam

Vivia dentro d'alma

Me acostumei aqui

Mal lembro dos detalhes

Sei mais sobre as paisagens

das minhas lembranças

Lembro mais pela intensidade

Do que por hábito ou talento

Chegava na varanda, via um atlântico azul,

escuro, monstruoso,

Olhos de fogo, risos debochados

O sol incendiava o meu horizonte

O céu caía de cansaço

Nunca fui de desafios

Sempre fui desafinado

O meu excesso agridoce

Quando voltei às ruas, as pernas ficaram

Deus, eu me arrastava!!

Pulava

As esquinas não me seguiam

Me empurravam

E eu ia aos tropeços

Com os olhos no chão

Vendo os próprios passos

E continuo assim

Pensaram que eu era louco

E eu era

Todos nós, amado!

O imaginativo, que vive mais o que inventa

O mundo lá fora, de medo

Eu só quero e só tenho saído do meu mausoléu de timidez

Procurando alguém que esquente o meu pulso gelado

Aprendi aos poucos, errando, retrocedendo, voltando, vencendo...

Aprendi da maneira mais natural possível

Hoje, eu me lembro

Que teve um verão em que eu não o vi

Teve umas férias em que eu não saí de casa

Acuado, jogado às traças

Esqueci de viver por fora

E demorei a entender como é bom.. viver no agora.