Instituto Maria Imaculada
Cada vez que olho essa imagem
Minh'alma vagueia no tempo,
E uso esse meio tempo,
Recordo uma breve passagem.
“Retrato”, d’O tempo e o vento*
Instiga-me justa homenagem.
Breve tempo de estada
Transcorri entre seus muros.
Adolescente, inseguro,
Um filho da terra amada,
Banhado no “Poço escuro”
Instruía minh’alma lavada.
Pedaços de meu espírito
Espalhei por entre os espaços.
Minh'alma faltando um pedaço
Ficando entre manuscritos.
Aberto eu deixei meus braços
Sem dito pelo não dito.
Aqui fui ouvinte, eu falei.
Escrevi de cansar munheca,
Fui rato de biblioteca.
Aqui fui amigo do rei
Até já tirei uma sesta,
De tanto que aqui estudei.
Na hora dos entremeios
Corríamos de encontro à Penha
Era a gás ou fogão a lenha
Pasteis ou pão de recheio
Luizota me dava senha
Infiltra-se aí nesse meio
Uma tal de Gorda Chica
Outra tal de Chica Magra
- Comida aqui não se estraga
- Daqui, seu menino chispa!
- Ô Penha, não roga praga,
Que não é coisa bonita!
Irmã Teixeira, uma amiga,
Irmã Margarida Marques,
Maria José, das escritas.
Irmã que ensinava artes.
- Véu branco não dá fadiga,
Nem touca na cor zuarte.
Irmã Catarina Bibas,
Irmã Socorro e Inês,
Irmã Zoê nas cantigas
Nos hinos de todo mês.
Na biblioteca me siga;
Eu vou estudar meu francês.
A minha saudade é voraz
E não é saudade qualquer,
Saudade dum templo de fé,
De ensino, da Irmã Ferraz.
Eterna Saudade Ma Mère
É tempo que não volta mais.
Um filho na terra amada
Sob as bênçãos da Virgem Maria
Naquela passagem de entrada
No início das romarias
Instituto Maria imaculada
Tão bem a minh'alma fazia!
* Referência à obra de Érico Veríssimo, “O tempo e o vento”, composta de três romances: “O continente”, “O retrato” e “O arquipélago”.
Em “O retrato”, Rodrigo Terra Cambará decide voltar a sua terra-natal.