AINDA UMA MEMÓRIA

Quando você voltou haviam farpas de tempo em teus olhos...

Velho amigo de que riscos você lembra?

O quanto você lembra?

Se é que lembra...

Nós já vimos o luar sangrando luz sobre a floresta

E adivinhamos mistérios que ela não tinha

Sinto falta... as vezes tanta falta...

Que tempo é este que não é nosso aliado?

Que afasta os amigos e aproxima os indesejados...

Velho amigo quando você chorou quem te amparou?

Eu lembro de tudo...

Nunca esqueci...

Quando gritei no escuro de uma vida arruinada

Quando clamei sem orgulho por uma ajuda que não viria

Onde estava você?

É isto que a vida nos deu...

Memórias...

Houve um tempo em que o ar tinha o som de nossas risadas

Riamos tanto...

Riamos com humor

Riamos da dor

Riamos do desespero

Riamos quando já não podíamos mais...

Nos riamos...

Velho amigo caminhamos sob o sol do sul quantas vezes?

Estarão lá nossas pegadas?

Haverá ainda algum vestígio nosso naquela cidade?

O que o antigo bairro ainda tem de nos?

Tão pouco eu receio...

Tão pouco!

Velho amigo nos vimos demônios e fadas em uma ótica toda nossa

Destilamos amor e veneno em igual medida

Fugimos dos inimigos, mas nunca do medo

Ninguém foge do medo velho amigo

Enfrentamos algozes sem coragem só com desespero e astucia

E sobrevivemos

Contamos historias nas praças em madrugadas indistintas

Vinho e falatório como acompanhamento

Imaginamos que nunca ia acabar?

Tolos...

Velho amigo às vezes sinto falta...

Tanta falta.