NA RODOVIÁRIA NOVO RIO

Tantas pessoas vêm e vão

atropelando-se aos montes,

procurando horizontes

expresso em cada um eu vejo:

de incerteza, num lampejo,

até que cessa a procura,

sobressai então a candura

num abraço com desejo.

Abraçam-se... abraçam-se,

beijam-se, olham-se, beijam-se,

apertam-se... apalpam-se

sorrindo de boca a boca.

Vejo que a espera foi pouca

pela alegria da chegada,

emoções descontroladas

amores e paixões loucas.

... Uma beleza que chora

profundamente sentida,

vai deixando comovidas

as pessoas que vão passando.

Faz tempo, está soluçando

desde que aqui eu cheguei,

até já me emocionei

não sei ver mulher chorando.

Agora, saiu bem depressa

para um ônibus pegar,

arfa o peito, sem chorar,

os olhos, num vermelhão,

parecem dois pimentão

avermelhados no pé,

acredito e tenho fé

que Deus será seu clarão.

A garoinha continua

transportando-me pro pago,

escramuça de índio vago

na confusão do momento,

e devido o ajuntamento

vai parecendo rodeio,

ouço bem longe, um floreio

de cordeona, num lamento.

Lembro o grande José Mendes

Que em noventa e quatro se foi,

deve estar aboiando bois

lá na "Querência do céu",

fazendo aquele escarcéu

com seus versos inspirados,

num fandango mui animado

clareados ao fogaréu.

Também lembro Osmar Rodrigues

declamador vacariano,

que me ensinou do "Paisano"

o modo de proceder,

Como é lindo o sol nascer

nos campos de Vacaria;

É a geada branca e fria

que molda o homem ao crescer.

Rio-RJ, 31 de dezembro de 1993.

Esperando o mano João Ivo.