Meu primeiro lápis

Quão difícil é lembrar de coisas tristes

E tão sonhado o amor que insiste

Em dizer que aquele passado

Na sua mente não mais existe.

Fiquei pensando em minha jornada

E na infância retomei a estada.

Bem mais fácil é olhar sua história

Do que prever o que vem logo, agora.

Seis anos, cabelinhos curtos em franja

Doce lembrar analfabeto do olhar

Que via o mundo sob a ótica inocente

E cada letra como uma sombra ausente.

Uma folha, um lápis qualquer, uma indecisão

Esperar pelo ano que chega, sem ilusão

E aprender na escola o que vai no coração?

Ou rabiscar símbolos sem sentido

Na ânsia de já ter aprendido?

O lápis, fruto da leveza

Não desliza no papel sobre a mesa

Ele trava, se cola na incerteza

Das risadas das crianças malfazejas...

Quando consegue, enfim, vencer o medo

E rabisca uma letra, um desejo

Transforma o olhar em eternidade

E a alma fica dona da verdade

Verdade essa que acomete o sábio ser

De que a vida é mais do que viver

A vida se constrói com o saber

O saber que começa com o ABC.

E aquele ingrato lápis

Que no início não corria

Passa a voar com maestria

Criando formas com primazia.

E a alma ganha um enlevo

Que é a descoberta do valor

Que possui o imberbe leitor

Em sua escrita principiante

Ele não escreve magnitudes

Nem pronuncia maravilhas

Mas cada letra que escreve

Escreve sua própria trajetória.