De volta às origens

Aos velhos e bons amigos que espero

rever em Itapecerica da Serra

Quem se foi pra lugares distantes

Sabe a dor de não ser de ninguém.

No conluio de estranhos e nômades

Mesmo atentos os olhos nem vêem:

Uns que passam são mero alvoroço;

Alguns outros, fugace impressão.

São ruídos, espectros, esboços,

Mas amigos de fato não são.

Sente isso quem vai tão distante

que se perde da própria raiz;

como galho que cresce bastante

porém seca, sem seiva nutriz.

Quem se vai quando volta é que sente

Que perdeu a noção do que tinha

E descobre, talvez reticente,

Que enquanto ele foi outro vinha.

Seu lugar não é mais seu lugar;

Nem as praças, calçadas, nem ruas...

Nunca mais, ninguém mais. Ao voltar

Só as velhas lembranças são suas.

E são suas. Só suas. Ninguém

Preservou a memória tão clara.

Quem se vai quer rever, quando vem,

Até mesmo o que mais desprezara...

Só que os anos, garoa do tempo,

Enxovalham a doce inocência

E eles vão, pouco a pouco, roendo

A estrutura vital da existência.

Sente isso quem vai tão distante

que se perde da própria raiz;

como galho que cresce bastante

porém seca, sem seiva nutriz.

São Paulo, 31 de março de 2012 – 00h20min