Entardecer em Olinda
O vento pincela no céu
um amplo quadro alaranjado
Adormece o sol nos braços da tarde
embalado pela cantiga do mar
e encoberto por suas águas bordadas
pelos primeiros raios da lua
Do alto dessa cidade
vejo a irmã capital se acalmar
com suas mãos segurando as pontes
como crianças a brincar de corda
suplicando para que o Capibaribe pule
e caminhe sobre a cidade
a retribuir o descaso dos homens
libertando-se das algemas da poluição
sonhando cada pulmão purificar
Daqui, sentada, os olhos passeiam por igrejas
à procura do último suspiro de fé
sobem nos coqueiros esguios
em busca da Olinda perdida
e fitam as ladeiras desertas
que choram a ausência dos blocos
e dos felizes foliões que,
na alma dessas pedras seculares,
deixaram suas pegadas.
O entardecer rouba-me lágrimas
Saudades dos sonhos enterrados
No cemitério das flores esquecidas.