Fragmentos da infância

Fragmentos da infância

O arco de ferro

Bolinha de gude

O estilingue no bolso

Elástico frouxo

No ombro o embornal

Na volta da escola

A mãe preocupada

No meio da tarde

As pipas no céu

No chão a “pelada”

Com bola de meia

Já toda rasgada

Cuidado menino

Não quebre a vidraça

Do nosso vizinho

A rua de terra

De casas iguais

Os grandes quintais

Com frutas diversas

Com arvores de sombra

Onde dormem pardais

Cuidado menino

Não mexa nas frutas

Do nosso vizinho

A praça da igreja

È dia de festa

O velho realejo e o periquito

O mascate vendendo

Até gato por lebre

Termina a missa

O padre agradece

Mas antes convida

Pra grande quermesse

Vigiando as ovelhas

Já conta o dinheiro

Que a festa promete

Cuidado menino

O padre é devoto

Do nosso vizinho

Os dois namorados

Sentados no banco

A paineira faz sombra

Eles fazem projetos

Pensando besteiras

Gostoso é beijar

O banco da frente

Ostenta o cartaz

“Casa dos enxovais”

Cuidado menino

A moça é filha

Do nosso vizinho

A casa da esquina

No canto da praça

A grande varanda

Sem rede e sem flor

A moça bonita

Atrás da janela

De olhos distantes

Parece que anda

Carente de amor

O auto-falante

Na torre da igreja

De longe se ouve

Saudosas canções

Alguém oferece

Para dois olhos verdes

Um outro oferece

Para as moças bonitas

(Ninguém lembra das feias)

Mas para moça tão triste

Que espia de longe

Daquela janela

Ninguém se atreve

Cuidado menino

Ela é protegida

Do nosso vizinho

Sebastião Generoso
Enviado por Sebastião Generoso em 15/10/2008
Código do texto: T1230724
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