A MOCHILA MÁGICA 5/6

A MOCHILA MÁGICA V

Finamente, por floresta penetrou

e deparou com uma velha encarquilhada,

toda vestida de preto, que pediu:

“Belo soldado que por aqui chegou,

terá um xelim para uma velha esfaimada,

que nada de comer há dias viu?”

“Bem, na verdade, somente tenho três,

mas entre três e dois, que diferença...?

Minha comida já gastei e a mata é densa...

Deus a abençoe, avozinha, desta vez!’’

Daí a uma hora, seguindo a sua jornada,

encontrou outra velha magricela,

também vestida de preto, que pediu:

“Meu bom soldado, a vovó está esfomeada,

não terá um xelim que dê a ela...?

Será que fez a volta e me iludiu?

pensou o soldado, mas era caridoso.

“Só tenho dois xelins, é bem verdade.

Que diferença faz, se a caridade

tem mais valor que o ouro mais formoso?”

Assim, lhe deu seu segundo xelim

e retomou a senda, a assobiar;

mas em seguida, para seu espanto,

terceira velha ele encontrou assim,

toda de preto, magra e a tropeçar,

que a voz lhe dirigiu, cortada em pranto:

“Gentil soldado, tenha pena da avozinha,

não como há dias, estou quase morrendo,

dê-me um xelim, por favor!” – disse gemendo.

“Deus abençoa quem ajuda a pobrezinha!...”

Disse o soldado: “Acho que há inflação

de velhinhas ao longo desta estrada!

Na verdade, resta-me apenas um xelim,

mas entre um e nada... a situação

é quase a mesma... Vou ficar sem nada,

mas me parece que precisa mais assim...”

A velhinha agradeceu profusamente

e então sumiu, como por encantamento!

O soldado persignou-se no momento:

caía a noite já assustadoramente...

A MOCHILA MÁGICA VI

Dentro em breve, porém, nova surpresa:

enquanto procurava para dormir lugar,

uma quarta velhinha surgiu no caminho,

vestida de preto e de grande magreza...

O soldado estacou e foi o primeiro a falar:

“Desculpe, vozinha, acabou o dinheirinho,

as suas irmãs tudo já me levaram...”

“Eu sei, meu netinho, vim para agradecer,

você foi generoso, fez por merecer,

dar-lhe-ei três desejos pelo que lhe tomaram...”

Ficou o soldado de cabelos eriçados:

Quem ele enfrentava era uma feiticeira!?

“Não precisa ter medo, peça o que quiser!”

Tremendo de medo por antigos pecados,

pediu de imediato, como bênção primeira:

“Quero estar sempre na graça de Deus! Se puder

me dar isso, vozinha, já me dou por satisfeito!”

“Concedido!” – disse a velha. “E que mais?”

Bastante aliviado, sem querer pedir demais,

Falou ainda com medo e sem pensar direito...

“A minha mochila!... Que nunca se estrague,

por mais que se encha, não rompe nem rasgue,

enquanto eu viver...” “Pois bem, concedido,”

disse a velhinha. “Mas pense bem agora,

é seu último desejo, veja se vai pôr fora...

Escolha bem o que quer, pois será atendido.”

“Que tudo o que eu peça, venha para minha mochila

e só possa sair dela depois que eu mandar;

por pesado ou por grande não a possa rasgar...”

“Concedido!” – disse ela – e no ar some e se asila!...

No instante seguinte, Brian estava sozinho.

Ou era uma bruxa ou alucinação...

Quanto à graça de Deus, posso bem consegui-la!

E seguiu, já no escuro, a andar no caminho

e então, numa pedra, deu feroz tropeção!

Queria essa pedra – pensou – dentro da mochila!

E caiu para trás, com um peso tremendo!

Com todo o cuidado, as correias soltou,

abriu a mochila e a pedra ali achou!...

Desejou que saísse, logo no chão a vendo!...