Carta ao além

A Valdete não está só,

ao contrário do Josinei,

que preferiu o isolamento como companhia.

Dois seres semelhantes em muitas coisas,

diferentes em várias outras.

Ela, pura ternura,

enquanto ele buscou na clausura

a sua razão para o existir, de ser, dos seus porquês,

mas não tem como esconder,

que sempre foram e ainda são

dois irmãos fantásticos, dois fantásticos irmãos.

O Adélio deve estar aí com vocês

e pela sua calma e paz de espírito,

não será difícil reconhecê-lo.

Ele se foi muito cedo,

porém, o tempo e o medo, não se controla.

Nós não controlamos nem as esmolas,

as migalhas, as nossas próprias falhas e nem a nossa estupidez.

O Josimar continua com o mesmo espírito aventureiro,

aguerrido, querido, valente e corajoso

e com certeza será aquele idoso bem disposto,

com rugas no rosto e bastante calos nas mãos.

O Toni continua firme em sua convicção,

a religião, sua opção e quem tem Deus no coração,

certamente precisará de muito pouco.

A Mariete deu uma nova guinada,

como mulher determinada, forte, sonhadora,

uma doutora na arte de viver

e com quem sempre valerá a pena conviver.

Eu estou bem, se bem que de mim,

quem tem que falar são os outros,

só posso garantir que falta pouco, muito pouco,

para eu ser totalmente feliz.

O Edson não suportou a ida de vocês,

partindo logo em seguida dessa vida para encontrá-los,

amargurado e revoltado, mas porquê, meu irmão,

se tínhamos tanto chão para pisar?

A Lorena também não reagiu bem a perda,

perdendo-se dos seus propósitos

e das propostas familiares,

num dos lares mais exemplares,

daquela rua, daquele bairro, daquela cidade,

naquele tempo e que tempo bom!

Curioso é que, supostamente,

foram os dois que sofreram menos pressão,

o que nos leva a crer, que proteção em demasia,

às vezes impede o crescimento, o desenvolvimento

e os lamentos quase sempre substituirão os sorrisos,

mas é preciso viver para saber.

A Gislane continua um encanto,

no seu canto e muito bem protegida.

O Bileco, ou Altair Júnior, dá lições de vida,

com sua resistência e sua sapiência,

apesar de ser o caçulinha.

Existem coisas que Deus faz e que não são para serem entendidas,

devemos tão somente viver a vida e não questionar nunca a hora da partida.

A nossa cidade, eu deverei visitar em breve,

mas sem o seu colo, dona Rosa

e sem o seu abraço, seu Altair,

não é a mesma a emoção de ir,

mas sempre valerá rever os entes queridos,

sendo que é sabido,

que findo o prazo de validade já preestabelecido,

todos nos encontraremos em nossa nova casa,

o nosso novo lar,

para onde vocês foram antes

com a missão de arrumar.