Elegia de um Vencido

I.

Como um fantasma que ermo vagueia

Na solidão da natureza morta,

Minha sanidade busca uma cadeia;

Uma prisão que lhe faltam as portas!

Ela busca, como um verme ou parasita,

Os lugares mais fundos, os cantos escuros,

As carnes apodrecidas e cheiros imundos.

Ela quer habitar onde ninguém habita!

Ela quer a solidão infinita dos moribundos,

Quer dar voz ao terror que me orbita!

Minha mente é meu próprio submundo

E me leva a uma tristeza nunca antes escrita!

II.

Eu sou um louco aterrorizado e hipocondriaco,

De modo que o contato humano me deixa febril,

Pensar em sair do meu quarto me dá calafrio

Persigo a solidão de um jeito maníaco!

O meu corpo me causa claustrofobia,

Não tenho energia para amar ou viver,

Tudo no mundo me traz profunda agonia,

Dia após dia sinto a mania me vencer.

Eu quero não ser notado, como se eu não existisse.

Quero não precisar nunca mais falar com ninguém.

Minha pulsão de morte, sedenta, insiste:

"Eu preciso ser nada, ser menos que 'alguém'."

É meu desejo íntimo morrer abandonado.

Numa cova, sem nome algum!

Não quero nada nem ninguém ao meu lado.

Sem nenhuma elegia, sem funeral nenhum!

Ah! Cada vez piores os dias tem sido,

É impossível superar a monotonia!

Não se engane. Essas palavras que escrevo não são poesia.

São o triste lamento de um homem vencido!