Tempo Inacreditável

Se não tivesse sentindo na carne a dor da realidade,

Se não esfregasse os olhos tentando negar o que assisto.

Preferiria negar.

É tão surreal o que vivemos vendo a realidade negada

Nem direito de chorar a partida temos

Quem parte chora sozinho, quem fica chora baixinho...

O ar que já não é bastante

O pão insuficiente

A labuta permanente

O sol nasce e se põe, na mesma toada

Com choro e sangue

Dos olhos famintos, injustiçados

E o roteiro não muda, conhecemos de cor o enredo

Vão sugar até a última gota

Do suor, da lágrima, do sangue

Intrometidos somos nós que ousamos sobreviver

Aos planos de morte que tramaram ao nos encontrar

Decidiram que é deles esse chão e garantido, só o caixão

Que nos guarda até adubar o chão

Onde eles colhem nosso quinhão.