Tragédia Menor da Hilíade

I.

Eu vivia em júbilo absoluto, na presença dos deuses!

As ninfas de Dionísio faziam transbordar o cálice meu,

Cantava ao lado de heróis! Conhecia Eneias e Aquiles.

Era íntimo da verdade, mais sábio que todo um Liceu!

O crepúsculo último chegou sob a face de uma musa,

Sua beleza e sua graça desafiavam todo o empíreo!

Tão bela quanto a mulher que outrora fora Medusa,

Não havia entidade que para com ela fosse páreo!

II.

O encanto da hilíade foi o prenúncio da danação!

Sua presença trouxe consigo antigos demônios

— Fez o olimpo sucumbir, fez os céus caírem ao chão! —

Liderou titãs enlouquecidos e guerreiros macedônios!

Os belos Campos Elíseos… foram incendiados!

Foram mortos os animais, assassinados os heróis;

Os rios que não viraram sangue foram envenenados.

O inferno ardeu nos céus, com a ira de mil sóis!

III.

A beatitude, a ataraxia, a aponia… tudo se perdeu!

Os meus amigos, os meus animais, a minha alegria…

No inferno da dama das águas, tudo isso ardeu.

A inveja, o ódio, o estupro… nada mais existe além da fúria!

No horizonte vejo tão somente cinzas, horror e desesperança.

Pois, ó Júpiter! Desgraça como essa nunca antes existiu!

Não há nada mais para mim, não há mais esperança!

Tudo em que eu acreditava, tudo o que eu amava… sucumbiu.

IV.

Thanatos! Filho de Nix, noite eterna do Hades, me destrua!

Faz minhas lágrimas sumirem ao vento, torna-me nada!

Pois, ó Deus! Ó Morte… é preferível ser levado pela mão tua

A continuar vivendo tamanha desgraça!

Adeus pai! Adeus mãe! Adeus mundo corrompido!

Adeus dama dos infernos que desgraçou o universo!

Soubesse outrora que teria um fim tão perverso

Faria de tudo para nunca antes ter nascido!

Raul Brasil
Enviado por Raul Brasil em 30/01/2021
Código do texto: T7172477
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