Como nunca se viu por aqui
e que sejam bem-vindos
os dias cinzas
que as pernas tenham força
para levantar o corpo
cada vez mais desacreditado
e que o amor pelo presente
supere meu temor pelo futuro
cópia perfeita de ontem
no papel ensopado de vermelho
que cobre o chão das ruas
ecoam os gritos aterrorizados
por dedos em riste
dedos que apontam,
dedos que semeiam a sujeira
mascarada por belos fraseados
a dialética sedenta pelo corpo pontual
objeto de estudo
ser humano objeto
enfileirado, ordenado
tratamento excepcional
fecha-se portas de corações férteis
apaga-se a história de uma nação tão diversa
surge o sujeito moderno, seco e duro, imerso na escuridão
avançando pelos dias com uma beleza peculiar
. peculiar .
o jeito como espalha o temporal
pelo tempo que for necessário
em uma só brisa, mesmo que de leve
abrindo espaço para que todos os raios da luz oprimida
brilhem tão fortes, como nunca se viu
rasgando o céu de dourado, como nunca se viu
olhos tão bonitos
perdidos em lágrimas
rolando mundo a fora em busca de refúgio
esperançoso ao revogar o ódio
como nunca se vê em dias cinzas