Ermo

Vez por outra é necessário

atirar-se ao deserto

com o balaio de satisfações a tiracolo,

como matéria de sobrevivência.

Olhar, sentir o peso,

apalpar, jogar às costas,

trazer à mão

ou rolar a pontapés,

fosse pedra inerte no caminho.

Vez por outra,

há que se afundar

nos caminhos escaldantes,

experimentando a sequidão

dos rios de areia

e o perigo iminente de peçonhas,

saber-se sozinha

na responsabilidade do balaio

e fuçar sentidos,

até a desconstrução.

Vez por outra

na aridez do riso,

corre mar dos olhos.