Sexta-Feira

Quero chorar.

Me olho no espelho sufocado

Com a garganta entalada

O espírito aprisionado

Dentro desse recipiente apertado.

Quero chorar.

Entalhar a cara no piso

Rasgar a alma no grito

Com todas as dores

Que nem posso sentir.

Quero chorar.

Escondido nas cinzas

Dessas ausências de cores

Que os dias são.

Quero chorar.

Ajoelhar rendido,

Olhos baixos, sentindos

Ao ver os grilhões circundantes

Dessa prisão invisível.

Quero chorar.

Para, quem sabe, esvaziar

Para, talvez, respirar

O ar envenenado

Dessa vida de boa

Ou não tão boa assim.

Quero chorar.

Pela saudade profunda

Dos anos que não voltam

Dos abraços pretéritos

E pelo perfume que não sinto

Desde semana passada.

Quero chorar.

Por isso e por aquilo

Sem razão específica

E por todos as outras coisas justificáveis.

Quero chorar.

Sem ter que me explicar

Ao mesmo tempo que desenho

Rabiscado, grotescamente

Todos os meus motivos.

Numa tela, observada

Por quem entenda de arte abstrata.

Quero chorar.

No começo gritado

No final de forma fetal

Recolhido aos travesseiros

Silente, doente

Sem remédios

Esquecido por livre vontade

No fundo do quarto.

Quero chorar.

Quero chorar!

R.W.

Renato W Lima
Enviado por Renato W Lima em 29/01/2018
Reeditado em 29/01/2018
Código do texto: T6239328
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