Morte, glória do poeta

Que tristeza é essa que acomete o poeta?!

Pois já não dorme, não bebe ou se alimenta.

Há tempos dera adeus à velha boemia

Caíra, alma doente, num tal estado de apatia

E hoje vaga feito morto-vivo.

Indiferente aos sonhos de outrora

Surdo aos apelos dos últimos amigos

Tem a morte estampada em seu semblante

A exibir uma palidez, como de branca cera.

Ora, em breve ocupar-me-ei da sua elegia.

Que tristeza é essa que acomete o poeta?!

Alguns dizem que é, sem engano, mal de amor.

Esse amor fidalgo que não pôde ser experimentado.

Oceano desolado, coração álgido, sangue coagulado.

E o que lhe representa o denominador comum?

O ato final das mazelas da vida desse bom ator.

O poeta ama e no amor constrói sua obra e dor.

E eis que na morte encontra sua glória

Porque há mais beleza no morrer poético

Do que no enfadonho viver concreto.

PALAVRA DO AUTOR

O eu lírico deste trágico poema é um "Narrador Onisciente" aquele que tudo vê e tudo sabe sobre o poeta. Por sua vez, o poeta parece acreditar que a morte lhe será uma saída honrosa e mesmo gloriosa, pois com esta, seu nome e obra serão imortalizados. Como o leitor poderá facilmente notar, o presente poema reflete o pensamento dos poetas depressivos, mormente dos séculos XVIII e XIX. Nada, contudo, reflete a realidade de seu autor, nem mesmo sua opinião sobre morte e glória. Temos aqui, portanto, apenas uma inspiração poética. Esta nota se faz necessária porque o leitor internauta costuma ser muito suscetível.