PONTO FINAL

no dia certo, mas não esperado,

hora, se possível depois,

achava-se disperso,

em meio às lembranças, imerso,

quando a viu chegar.

coração disparado,

que aos poucos cessava,

eis a ordem dada: A hora chegou.

glaciava aos poucos os membros,

em todo ser, toda agonia,

desejo de alguém perto,

insuportável solidão,

clamava aos céus,

por ter vivido mal, perdão.

dores mortais da alma ganharam vida,

e era ele só, e a lúgubre fania.

sarcástico humor, triste,

as cortinas se fechando,

e ainda faltava viver tanto,

sentir, correr, amar, sorrir,

ponto finalizando um texto,

a dor era um pretexto,

era um triste samba enredo prestes a acabar.

um fim para nunca mais.

aquele desfecho medíocre,

na história tão mal contada,

letra por letra, planejada, pesquisada

até mesmo copiada.Mas não plena vivenciada.

sem erros, leitura fácil,

assinada por outros. acabando, sem final feliz,

somente isso: extinto, finito,

sem direito ao último pedido:

Aqui jaz o último grito.

hora que amedronta,

Que nos segue, qual sombra,

o tempo do último suspiro,

da insondável partida,

porto pronto, saída à contragosto,

tristeza e desgosto para quem fica.

misterioso sussurro ouvido,

um vento passando, mudo grito,

coração parado, corpo no chão.

paz no espaço, silêncio, escuridão.

nada mais que o vazio, nada mais, o vazio.

sala arrumada, televisão ligada,

relógio funcionando,

geladeira cheia, contas para pagar,

agenda lotada, trabalhos a fazer,

livros para ler, cartas para escrever,

rendas à crescer.

nada mais o vazio, nada mais, o vazio.

todo o tempo, um instante

cada minuto, horas sem fim,

anos e dias,

o carro novo, casa nova,

vitórias, derrotas, fracassos, sucessos

as alegrias, amores, solidão.

nada mais, só o velho vazio, um velho vazio.