NOTURNO
E essa noite comprida,
Feito avenida,
Esse olhar vago,
Embaçado, cansado, notívago,
Essa vontade de perder a postura,
De fragmentar a moldura,
Não me importar com mais nada.
Ser uma mariposa extasiada,
No voo estranho que a conduz,
Para o calor da luz,
E girar e girar e girar na labareda,
Até perder as asas de seda.
E essa dor n'alma, mais do que nos ossos,
Esse lúcido saber que não posso,
Mudar coisíssima alguma,
Que eu não passo de uma,
Mulher no sem rumo dos sentimentos,
Um livro de rasurados momentos,
De uma Alice sem país das maravilhas,
Não passo de uma filha,
Da concreta realidade.
E esse não sei o que dizer,
Para a menina que indaga no meu interior,
Onde está o poético viver,
A antecipada primavera,
O castelo de quimeras,
O príncipe encantado, onde está o amor?