Ode à minha filha morta
 
Começou como uma quimera, 
Eu ficava o tempo todo olhando para ela...
Chamava-a de bailarina. Lembro.

Até o convite tinha uma bonequinha.
Como eu disse - foi uma fantasia -
Tinha algo que crescia, crescia e acaba o dia.
Eu, pai, agora de Cecília, como a Meireles, a poeta; aquela, efêmera.
Nosso sonho foi na contagem do tempo
Que leva a beleza da vida e da morte de uma flor.
Hoje, ela teria lindos quatorze jovens anos, 
Mas quis a morte, aquela que não comete enganos, desafiar a minha ira,
E, desde estes tempos infames,
Eu jogo o xadrez eterno com essa maldita,
Que, convenhamos, podemos responsabiliza-la por tudo, exceto, nessa nossa vida sem planos, que ela é a única que nunca se desapega da linha do nosso coração.
Ela é o laço que Deus deixou como garrote em nossos pescoços, quando Ele sentir zerado nosso cronômetro, dá um pequeno sopro na cadeira e basta.
O meu coração é um caleidoscópio de sentimentos, quando penso em Maria ele vira um placebo, então eu bebo... a noite, pela tarde, todos os dias. Aliás, bebia. Hoje, fujo como de Alcatraz.
Por que rosa minha? Por que você tinha?...
Por quê não outro dia? Depois de mim, sua irmã, avós, sua tia? Por quê?
Assim escrevi em seu pequenino túmulo em tão grande mausoléu: "Que a terra não lhe pese o que você não pesou sobre ela."
Pensas tu onde jaz, que as memórias esfriam? 
Não lembramos de ti somente naquela sexta-feira fatídica em que tu, embalada pelos braços cuidadosos de sua tia, lutava pela sua respiração fraquinha, que aos poucos foi dormindo, dormindo, descansando e, enfim, como um anjo, com os rouxinóis cantando musiquinhas de ninar no seu sono, fostes para o paraíso morar nos elísios campos eternos.
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 15/02/2017
Reeditado em 15/02/2017
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