CONSTERNAÇÃO

O vento gelado me traz as lembranças

O fusca me olha tristonho e singelo

A brasa ilumina a vida sem rumo

Sem lua e sem sol, em qualquer direção

Fumaça me invade, consciente e faceira

Pensei ser herói, não passo de um fiasco

Pensei ser poeta, não passo de um tolo

Sozinho, em casa, chorando o perdão

O vinho, amigo, talvez me console

A luz, do outro lado, é sombra de vida

Os carros ruidosos disputam seus votos

Na eterna comédia de um louco existir

Pergunto se vale a pena desvendar

O sumo mistério das ondas ocultas

Matança prossegue, sem mais nem porquê

Sou eu, somos nós, detritos hediondos

De um mundo sem graça, sem luz e sem Deus

Nem mesmo o vinho me traz alegria

É duro notar que não há mais saída

Só resta aguardar a jornada acabar