INFELIZ

Infeliz

É o que meu espelho me diz

Por não ousar

Por não enfrentar

Por não lutar

Pelos meus sonhos incontidos.

Infeliz

É o que o espelho sempre diz

Por não surpreender

Por não esclarecer

Por não dizer

Todas as palavras em meu siso.

Infeliz

É isso o que sou

Por desistir de ser eu e me enquadrar

Por andar nos conformes

Em troca de bem estar

Evitar sofrimentos longe da guerra

Mas sem ela, como encontrar a paz?

É isso o que me faz,

Infeliz

É o que meu espelho me diz.

Quero viver um grande amor

Sim, com muita dor!

A dor da paixão.

Com seus altos e baixos

E suas incertezas.

Sua insegurança e falta de paz.

Sim, eu quero mais!

Mais que uma casa no campo

Quero meus livros e discos e amigos

Que já não tenho mais.

Quero deixar de ser,

Infeliz.

Como meu espelho me diz

Deixar de ser calma

Quando quero bater,

Deixar de ser branda

Quando quero bradar

Deixar de ser boa

Quando quero machucar.

Eu não quero mais mudar!

Eu só quero deixar

De ser essa caricatura da paz

Eu quero fazer mais.

Eu quero voltar a ser eu.

Malcriada, valente, sedutora e cruel

Cansei de ser mel.

Preciso me libertar.

Infeliz

É o que o espelho nos diz

Somos nós, você e eu em cada lugar.

Não mude, porque eu não mudei

Apenas me controlei.

Personalidade, doença crônica.

Infelicidade também.

Controlamos com desejos

Sonhos e fantasias

Fachadas e máscaras

Paliativos, escapes

Vida real,

Sociedade, fingimento

E coisa e tal.

Infeliz

É o que o espelho me diz

Mas quando me dou um sorriso

Me faço feliz!

(Valquíria Duarte)