ESCREVERIA
Escreveria pra você...
Mas as palavras antigas perderam a razão
Sinto-me analfabeta dessa nova estação
Escreveria pra você...
Se as palavras gastas, ainda fossem novas
E saíssem do meu peito como a primeira notícia
Mas elas envelheceram, se tornaram caducas, sem vida
Escreveria pra você...
Se os meus conceitos ainda fossem válidos
Eles escaparam de mim, como bandidos em cavalos
Escreveria pra você...
Se em mim ainda houvesse primavera
E as flores em minha alma ainda mostrassem esplendor
Mas atravesso um inverno sombrio, pálido, cortante, sem cor
Escreveria pra você...
Se os meus olhos na moldura fossem os mesmos agora
Mas eles mudaram de cor, crepúsculo cinzento sem fulgor
Escreveria pra você...
Se a tempestade que atravesso fosse chuva de verão
Mas ela é viva e terrível, um furacão
Escreveria pra você...
Se minhas palavras fossem racionais e minha emoção concreta
Mas meus sentimentos não são normais
E minha alma é de poeta.