O pior da morte

O pior da morte é a falta de tempo de fazer aquilo que você deseja. É saber que não dá mais.

Não dá mais para abraçar quem você ama, nem reclamar da bagunça da casa.

Não dá mais de economizar dinheiro para a tão sonhada viagem. A sua viagem final será uma incógnita.

Não dá mais tempo para o arrependimento, nem para pedidos de perdão. Será apenas você e sua consciência na exaustiva tentativa de mais um minuto de existência.

Tudo passará como um filme em sua cabeça. Todos os sonhos, as frustrações, os sorrisos verdadeiros e as lágrimas derramadas. Você vai rever pessoas, esquecer-se de outras tantas que nada de bom lhe agregaram; e rezar para que exista algo de “vida” logo após seus olhos cerrarem-se definitivamente.

O pior da morte é a falta de tempo de fazer aquilo que você deseja. É saber que não dá mais.

Não dá mais para ver seus filhos crescerem. E num minuto de insanidade, os visualizará adultos, belos, felizes e realizados.

Não dá mais para se cumprir as velhas promessas feitas no Ano-Novo: emagrecer, mudar o corte de cabelo ou trocar de emprego e fazer o que realmente gosta.

Não dá mais para encontrar um grande amor, daqueles de virar a cabeça de uma pessoa. E talvez você perceba que sua alma gêmea lhe acompanhou a vida toda, embora não da forma que você desejava.

Tudo então vai se diluir no tempo, se perder na imensidão do abandono.

Você entenderá que o mundo não sente sua falta, o universo nem ao menos se deu conta de sua existência e, depois de um tempo, as pessoas se esquecerão de você e continuarão suas vidas. Então você deixará de existir.

O pior da morte é a falta de tempo de fazer aquilo que você deseja. É saber que não dá mais. Não dá mais para você ser quem é.