Canção à Lua

O sol, ainda que mestre cultuado

Nos dois Egitos, sobre o Nilo, antigamente

E que tendo grandes deuses ao seu lado

Forja a morte na espada reluzente

Ainda que belo, altaneiro e quente, o sol

Qual maestro numa orquestra de planetas

Atraindo, como ao peixe, o anzol

Iludindo as criaturas numa sombra de facetas

Ainda que tudo e mais que tudo a ele se diga

Meu coração se volta mesmo é para a lua

Seu ciclo imenso soa cheio de fadiga

Numa viagem solitária como a sua

Dia após dia muda sempre a sua forma

Ao nosso olhar, que da terra se levanta

Humildemente, a passos tristes cumpre a norma

Num esplendor que qualquer nuvem a suplanta

De seis às seis de um novembro em limpa noite

Que quando é cheia é matriarca de poesia

Surge bela num silêncio de azeite

E se põe débil, sonolenta, quando é dia

Por oito dias sua presença nega à noite

Minguante e nova com o sol durante o dia

Abraço esse parecido a um açoite

Um esplêndido e a outra sem valia

Ainda assim espera estoica sua vez

De caminhar do seu poente ao nascente

A pôr de novo em meio mundo a sua tez

No advento de uma breve unha crescente

A Andrade
Enviado por A Andrade em 13/12/2013
Código do texto: T4610301
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