VIOLÊNCIA

Menina bonita de olhar gateado
Pele da cor do pecado
Chegou ao bar para comprar
Cachaça para o pai.

Menina bonita
Mora numa casa de taipa.
Sua maior riqueza:
Algumas panelas reluzentes
Penduradas na parede.

Mal chega a menina no bar
Uma dama elegante
Elogia sua beleza.
Cabelo e cor da pele.
Como resposta,
A menina apenas sorri em agradecimento.

A dama continua:
É muito bela, doce menina.
Pode mudar sua vida.
Quer ser uma modelo famosa?

A menina pega a garrafa de aguardente.
Antes de sair, sorri e diz:
Obrigada mulher chique,
Mas preciso cuidar do meu pai doente.

Para quem é a bebida, doce menina?
Pergunta a mulher elegante.
Para meu pai, responde a menina.
Pode anotar no caderno, seu Corvina?

A mulher elegante se adianta.
Paga a conta do pai da menina.
Depois, lhe entrega um cartão
E convida: Se quiser,
Apareça na pousada Portão.
Podemos conversar...

A menina chega em casa
O pai já a aguarda nervoso
Com a chinela na mão,
Grita mal humorado:
Por onde andou?
Cadê minha encomenda?
Volta logo para a cozinha.


A pobre menina bonita
Vai arriar as panelas mais uma vez.
Arria tanto, que vira espelho.
Por um tempo fica a mirar-se
Através do fundo da panela.

O pai grita novamente:
Cadê o meu cumê?
Tô varado de fome!

A menina bonita olha ao seu redor
Tudo é pobreza.
Não tem nada para comer.
Sonha com vida melhor.
Decide visitar a elegante mulher.

A linda menina é bem recebida.
Em meio ao conforto,
A mulher logo convida:
Fique à vontade linda menina.
Peça o que quiser.


Pensou no meu convite linda menina?
Questionou a dama elegante.
A menina respondeu que sim.
Mas perguntou: E meu pai?

A dama elegante observou-a por um instante:
Se ficar aqui, nunca vai virar gente.
Comigo, vai ser diferente:
Modelo famosa em breve será,
Para cuidar de seu pai
Com conforto e dinheiro no bolso.


Resultado:
A bela menina foi traficada, aliciada.
Prostituída e mantida em cativeiro.
Seus documentos confiscados.
Até drogada foi no estrangeiro.

Só voltou ao Brasil depois de muito tempo,
Porque um cliente por ela se apaixonou.
Compadecido, pagou por sua liberdade.

Quando voltou para sua terra natal
O pai havia morrido.
Sua casa desapropriada.
Outra havia sido erguida em seu lugar.

E agora?
O que será da mulher amargurada?
Antes, uma linda menina cheia de sonhos.
Agora, só revolta e doença.
E mais pobreza ainda.

Escrito por Cristawein.














Cristawein
Enviado por Cristawein em 01/03/2013
Reeditado em 04/03/2013
Código do texto: T4166622
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