TRISTE ALMA

"O sono da razão produz monstros"

(Francisco de Goya)

Ó triste alma, como irás limpar-te desta mancha

Ignóbil mácula que lhe polui o ser atormentado

Negra nódoa indelével, infâmia que se engancha

Nos refolhos do íntimo de um espírito macerado.

Lastimável colheita da despreocupada invigilância

Ceifas pútridos frutos onde semeastes o desprezo

O cálice de amargores de que mantiveste distância

Transborda e sufoca o sentimento mantido preso!

O fio de seda que te mantinha atada à realidade

Tornou-se um pesado e atro grilhão de chumbo

O doce unicórnio que embalavas com serenidade

De súbito transformou-se em monstro iracundo!

Pobre alma a fitar o céu, súplice, as mãos erguidas

Não pode evitar a insondável voragem que surge

Abrindo-lhe sob os pés um terrível abismo sem vida

Não soubeste utilizar o tempo que corre e que urge!

Onde estava a razão, quando tu devias ter feito uso?

Agora padecerás sem previsão de termo pra tua dor

As sombras serão tuas companheiras, como um intruso

Da vítima acercando-se, a confiná-la em medo e pavor!

Anankhe
Enviado por Anankhe em 09/02/2012
Código do texto: T3489287
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