DONZELA DE FERRO

Jurei pela minha própria alma, “Nunca mais!”

Impenetrável era a rígida couraça a revestir

Um coração gélido e ressequido que jamais

Permitiria mais uma vez deixar-se iludir

Por isso ignorei teus olhares, assim eu quis

Pois não eram meus, mas sim de outrem

Ocultei os vexames e a horrenda cicatriz

Desprezei-te como o mais vil dos homens!

Na indiferença apaziguei a vida conturbada

Ver-te entre risos e com belas companhias

Açulou a convicção de minha mente acossada

De que inatingível eras e inacessível eu seria

Ambivalência cruel, tal qual carrasco brutal

Ante meus olhos, rogava para que sumisses

Longe do olhar, inquietava-me sem teu sinal

Inconfessável sentir que era infantil tolice!

Em sonhos, em vigília, implorava à sua imagem

Que me deixasse em paz, com minha dor e fel

E te fosses para sempre, liberando-me a passagem

Para meu ermo reino, onde a solidão é amiga fiel

Agora não mais poderei ver-te; as agonias findaram?

Quanto tempo passado inutilmente em amargura!

Eu me apego a lembranças que nunca existiram

Fantasma que criei para habitar minha sepultura!

Assim aguardo nesta incômoda urna, minha morada

Donzela de ferro tornei-me, com as carnes comprimidas

Apenas espero o fechar das frias lâminas aceradas

Para que una eu me torne com minhas próprias feridas!

Anankhe
Enviado por Anankhe em 01/02/2012
Reeditado em 02/02/2012
Código do texto: T3475138
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