TALVEZ

Calo o meu grito em fragmentos,
Tento suportar a angústia de cada momento,
Perambulo como um sonâmbulo pela calçada,
Cinzelo o elo entre eu e a primavera,
Me confundo com a madrugada,
Enigmática, deserta, quieta,
Vejo estrelas costurando a atmosfera,
Sinto uma insolúvel saudade de poeta,
Seta que penetra... quase me leva à loucura,
Desafio o vazio, inauguro alturas,
Me imagino sem destino, ave noturna,
Cumprindo o ofício de noturnar,
De se lançar ao vento, alcançar as furnas,
Asas serenas, apenas, voar...
Mas, as entrelinhas da realidade são concretas,
Enviesam, lesam, abalam as estruturas,
Me deixam distante demais da pessoa amada,
Me fazem flor despetalada - levada,
Noite a dentro, vida a fora sem direção,
Talvez, eu me encontre nos acordes de uma canção,
Talvez, eu beije a face da manhã orvalhada,
Ou apenas, amanheça – e mais nada.



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DESCALABRO

Tantos anos - desenganos,
da vida que passa e festeja
a miséria, a fartura,
com goles doces de vinho,
ou canecas de cerveja.
Grito preso de revolta
une todas as criaturas,
quer explodir, não se solta,
se queda calado, gelado,
como um eco do passado,
que não vingou, se perdeu.

Frágil crosta humana e triste,
quer ascender, mas desiste,
conto que não se escreveu.

 Assim como tu, também eu. 

(HLuna)

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Com minhas asas e um grito
 Atrevo-me a desafiar o infinito...
Nesta ânsia de amar
 Minha alma apenas quer
 V / O / A / R / A plenitude alcançar!
 Ainda que não passe do chão,
 Nem da grama da campina,
 Fresca e orvalhada,
 Se faz leve menina
 E toca a primeira estrela
 Que nasce na madrugada...
 Nos voos que trago dentro de mim
 Há uma ternura sem fim...
 Ó alma aventureira
Em tudo tens que ser
 Por inteira!
 O que mais queres alcançar,
 Depois de teres tocado
As cores do céu e do mar?

(Ana Flor do Lácio)

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Minhas mãos alçam voos
Como pássaros, na noite
Sobre rios e ruas sujas
Sentem o frio da madrugada
Minha alma, vai carregada
 De sentimentos e auguros
Versos, nas linhas escuras
Registrados como fumaça
Nuvens esparsas num céu de escuridão
Compondo outra poesia de solidão!

(Danusalmeida)