DOCE ILUSÃO

Tempo de fadas, de alma menina,
Idade dourada, tempo que fascina,
Tece as primeiras impressões,
Fantasias, travessias, descobertas,
Utopias, harmonias, olhar de poeta,
Incerto, repleto de interrogações,
Tempo de inocência, fortes emoções,
Alegria, correria nas estradas,
De cirandas, canções madrugada afora,
De acordar, de beijar a aurora,
Com a pele serenada,
Tempo que passou como o vento
Levou consigo todo o encantamento,
Toda a fragrância,
Que dava leveza à minha vida,
Levou as cores da infância,
Tempo de paisagem obscurecida,
Que me deixou perdida,
Na insustentável errância,
Alimentando o meu agora,
Com a ternura de outrora,
Desenhando recordações,
Tempo que me arrasta,
Me afasta de mim, do sim,
Ignora os meus apelos, me gasta,
Desencanta o meu jardim,
Eu te perdôo tempo, a ilusão me basta,
De que um novo tempo me espera,
Uma eterna primavera,
Aquém, muito além daqui,
Onde a dor não se ajeita,
A morte não mais me espreita,
E canta livre um bem te vi.


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PERSEVERANÇA

No canto do bem-te-vi,
eu me recordo de ti,
e enxergo águas passadas
que se fazem acumuladas
nos meus olhos a transbordar.
Talvez tenha sido o luar,
que comoveu-me as entranhas,
pelas lembranças tamanhas
trazendo de volta outras eras:
o sopro da Primavera,
o canto dos pássaros na aurora.
Tantas coisas vida afora
carregamos dentro em nós,
e eu sempre ando empós
de alguém pra desabafar.
Misto de dor e alegria,
uma estranha sinfonia
que me move, me comove,
na procura insatisfeita
da palavra mais perfeita
que não sei onde encontrar.
No ar baila uma fragrância
traz perfume da infância...
a esperança inda persiste
- a vida de mim não desiste.

(HLuna)