fico a esperar.

estava a esperar este momento

que não aconteceu

corri, girei o mundo

e o mundo não se moveu

fiquei a esperar por você

mas quem haveria de chegar?

e tenho o impulso de pelo sair a andar

mas, é madrugada

e as noites podem ser perigosas

mas qual o perigo maior

que esta dor no peito

que parece rasgar as fibras

e me deixa fraco

e sinto algo em mim tombar

para a direita

e sinto a vertigem

de ficar a aguardar em vão

é isto que por anos a fio me restou

aguardar alguém em vão

ninguém chegará

sabendo disso, porque ainda caio

nesse velho truque perverso

de ficar aqui a esperar

estenda alguém por favor sua mão

apiede-se desse corpo que parece jazer

sem força alguma, quase sem reação

pois num transe, quase atônito

ficou exaustivamente a esperar

a ninguém, pois ninguém iria chegar

ainda que parecia tudo certo

ainda que parecia tudo combinado

em vão as palavras são ditas

pois qualquer mero contratempo

as põem no chão

e as varrem para debaixo de qualquer tapete

tapete este que me enrolo

na busca de proteger-me desta friagem noturna

deste sereno da madrugada

não consigo dormir

nem consigo sonhar

pois fiquei muito, mas muito tempo

a esperar

e no fundo já imaginava que seria em vão

pois já dizia sussurrando meu coração

embalado este pela voz da minha

sempre forte intuição

lamento muito te informar

mas seja realista

ninguém realmente irá chegar

para em tua companhia ficar

nem em breves segundos de luz

nem em instantes que seja de altruísmo

ninguém pode vir

para comigo neste momento que tanto precisava

comigo aqui, ao meu lado ficar

peço um sopro de vida

uma ânima qualquer

a resgatar minha energia vital

a resgatar a minha motivação

que se desgasta mais e mais

a cada negativa

a cada ausência

há muito prevista

e que mesmo assim

insisti em não me render

fiquei caído num chão qualquer

a esperar

alguém que não iria chegar

e perdido na dor cardíaca

que desfia cada fibra

tenho que com ela

me resignar.

paulo jo santo

30/03/2011 - 01h50

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 30/03/2011
Reeditado em 30/03/2011
Código do texto: T2878779
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