O TERCEIRO ADEUS

O primeiro adeus veio em carta

Fuga repentina do gostoso perigo

Fera voraz que se lança em jaula

Mas que o próprio peito dilacera

Coração pulsante nas mãos...

Frias mãos da razão senhoria

Gelo sobre borbulhas ferventes

Mas o primeiro adeus foi até breve,

As palavras mentem, as palavras pesam

O coração sente, a alma chora.

O segundo adeus foi de repente

Palavras rabiscadas em segundos

No céu de um mundo só nosso

Desabando em chuva de verão

Súbita névoa, úmidos olhos

Janela fechada à serenata

Mágoa de criança

Mas o segundo adeus foi até logo,

As palavras mentem, as palavras pesam

O coração sente, a alma chora.

O terceiro adeus veio na cama

Qual último mergulho na fonte

Espinhos sob pétalas de rosas

Pássaro solto, alma em gaiola

Lento eclipse em sol da manhã

Mãos tateando portas e janelas

Lágrimas a fluir na face d’alma

Mas o terceiro adeus se fez acompanhar!

Gestos, silêncio, olhares frios.

Os gestos gritam, o silencio abate, os olhares ferem

O coração sente a alma chora...

E o terceiro adeus é até quando,

Se as palavras mentem,

As palavras pesam,

Os gestos gritam,

O silencio abate,

Os olhares ferem?

Não sei!

Mas o coração sente e a alma chora...

A alma chora!