A flor.

Ficava ali, no chão do caminho

E todo dia eu passava por ela

Era apenas uma flor, sem cor definida

Entre outras tantas

Não sei dizer quantas

Pode ser, fossem centenas

E eu também era criança, igual a ela

Entre outras muitas, iguais a mim

Num mundo de tantas coisas sempre iguais

A simplicidade as faz diferentes

Não sei por quê

Meus olhos se acostumaram

Olhar pra ela, exatamente

Passado o tempo, é como estar ciente

De quanto a fantasia não se distancia do concreto

De fato, não tinhamos procurado

O ângulo correto para olhar

Mas tudo tem seu lugar

Precisamos encontrar o nosso:

Em muitos casos, que não seja perto

Creio que em tudo na vida

A gente continua sendo sempre assim

Uma casa com jardim, numa grande avenida

Um momento que parece assim; desimportante

Que se repete momentaneamente

Ao longo de toda uma jornada

Que, ao final, se tornará também desconhecida

Uma simples coisa, entre outras tantas

Algum caminho do passado

Onde ninguém jamais voltou

Nem voltará

Nenhum agosto e nem setembro serão eternos

Hoje, olhando esses momentos à distância

Compreendo perene, a inconstância

Mas, alguma coisa permanece

Ali, parada no chão do caminho

Como simples lembrança

A ser replantada, com o carinho da imaginação

Talvez, tornar de alguma forma

Um tantinho assim, mais leve

O caminho, a jornada

Que, ao final terá sido

Breve como flor.

Pode ser que o Criador

Com o amor de quem se recorda, nos replante

Num jardim gigante, onde seja permitido

A criança sair da fila, a caminho da sala de aula

E sentar-se à borda do jardim, pra dizer àquela flor

Que, pra mim, ela era importante

e seria pra sempre lembrada.

Edson Ricardo Paiva.