Saudade

É aquela falta

Que rasga o peito.

É, também, um vazio

Do que veio

E se foi no tempo.

É, no fundo, a recusa

Do sim.

É palavra que não dá conta

De si.

Só entende a saudade

Quem a sente.

Arrisco a dizer

Que a saudade é maior

Pois não se vê.

É a inescapável afetação.

Ela é súbita.

Forte.

Veloz.

Um grito sísmico

Que abala sem admitir.

Faz o mundo ruir

E o que batia

Parar de bater

Ainda que por um instante.

Faz rir sem qualquer controle.

Faz chorar pelas dores

- tantas…

A saudade é um cheiro do corpo

Do perfume das rosas.

É um olhar refletido nos detalhes

Mais nobres

Como o coração invisível

E imensamente sensível.

A saudade é vento gelado

Que balança cada fio

De cabelo

E traz o ar quente:

A presença do amado.

A saudade é, também, o repouso

Depois de um cansaço doloroso

Ao lutar contra ela própria.

Uma luta interminável

Que o tempo amansa

Mas não cessa.

A saudade não se faz sem partidas.

Para nascer, ela precisa morrer.

Só se faz existir acompanhada.

A saudade ecoa

Em quem sorri calado

Em quem sofre disfarçado

Por um amor gigante

Agora ausente.

Saudade é sentimento

Que vai

Aonde não se sabe.

Em distância

Em espaço

Em pulsão.

A saudade é uma música

Que nunca para

De tocar.

A saudade é poesia

Difícil de ser lida.

Essa saudade

É do grão

Que faz a vida.

A saudade é de mim

E da gente.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 05/08/2021
Código do texto: T7314514
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