Cantoria à papai

No dia em que eu acordo com vontade de cantar,

Eu me lembro do meu pai que perto de mim não está,

Se ele não voltar de Minas o jeito é eu ir pra lá,

Porque saudade é cruel e eu não posso aguentar.

Quando eu era meninota, que não sabia cantar,

Vivia da contemplação de sua voz a ressoar,

Nas terras daquele sertão d’onde pôs-se a trabalhar.

E foi tanta carroça d´água, que o senhor lá carregava

Em cima da sua carroça pra quem lhe solicitava,

Eu, com a felicidade, se podia acompanhava.

Um dia eu achei de lhe dizer, pisando naquele chão

Pain eu quero morrer primeiro pois não sei se guento não,

Por todo canto que ando, lhe levo no coração.

Se eu virei poetisa e penso nas coisa além,

É porque sou fruto seu, que é poeta também,

Se tu canta eu também canto além do mal e do bem.

Sou filha da poesia, que também é mãe de papai

Não sei viver sem cantar, cantai e se alegrai,

Porque a voz que sai agora, pode um dia não vir mais.

A vida é um bicho esquisito que eu não posso entender,

Como é que se vive e trabalha pra no final vir a morrer,

Papai do meu coração, eu não posso lhe perder.

A tristeza chega e me toma e me enche de aflição,

Oh deus por caridade, não me tire o meu pai não,

Antes, peço, leve a mim, de tão frágil coração.

Mas no final de tudo eu sinto, que deve ter algum sentido,

Por que na vida da gente, nada há de ser perdido,

A grandiosidade do ser, tem no eterno um abrigo.

A tal da eternidade tá em tudo o que existe,

A tristeza é quem nos enfraquece, mas quem é forte resiste,

Tenho fé no bem do eterno, pra que eu não fique triste.

Papaizin lembre de mim que estou pela Bahia

Esperando seu retorno que vai me dar tanta alegria,

Eu tenho fé no bem que existe que não tarda esse dia.

Porque onde papai canta as paredes pende e cai,

Quem tá indo embora volta, por não poder seguir mais,

E quem já seguiu estrada, sente e volta pra traz.

O poder da poesia é do tamanho de deus,

Com certeza é sua fala, que ele nos concedeu,

Pra fazer reboliço e ressuscitar quem morreu.

Oh deus que é grandioso, eu peço por caridade,

Traga de volta o poeta meu pai pra cantar nessa cidade,

Onde ele canta o mal não vinga, porque é a própria bondade.

Papaizin oh meu querido, a vida é dura demais,

O senhor está tão longe, foi para a Minas Gerais,

E a saudade é tão grande que eu já não aguento mais.

Cléo Medeiros
Enviado por Cléo Medeiros em 25/04/2020
Código do texto: T6927772
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