Sr.ª Saudade

E a Sr.ª Saudade aflora no peito

Logo quer fazer morada

Atenta que é não precisa de brecha

Nem de porta escancarada

Ela se enfia em qualquer fresta

Você mal percebe, ela já está instalada

A danada é ousada

Digo assim pra não dizer mal educada

Ela posto que se entra

Puxa a cadeira e se assenta

Dá seu jeito de ficar

Uma vez já hospedada,

Meu amigo, meu pesar!

Boa sorte nessa labuta

Que vai ser lhe enxotar

Nunca vi mais arredia

Feito bicho do mato, não quer dialogar

Digo a ela “ vá se embora, Sr.ª Saudade!”

Ela se finge de surda, diz não me escutar

A Sr.ª Saudade lembra de cada caso

É um tanto assim de história

Nunca vi baú mais espaçoso

Nunca vi melhor memória

Ela fala que nem maritaca

Quando começa não quer parar

Dessa vez inverto o papel

Quem tapa os ouvidos sou eu

Finjo não querer assuntar

Mas ela fala do mesmo jeito

É tanta prosa fora de lugar

E quando a gente quase que esquece

Só pro coração aliviar

Lá vem ela de novo e começa tagarelar

Ela lembra os amigos

Queridos e agora distantes

Separados por centenas de milhas

De uma estrada de asfalto errante

Das risadas e do choro

Das conversas jogadas fora

Das traquinagens de “minino,

Das gargalhadas fora de hora

Lembra até do cheiro lá de casa

Lembra os tempos de outrora

Ah! Sr.ª Saudade, quanta rebeldia

Custa-lhe muito dar uma trégua

Coisa pouca, bem miúda

Só pro coração respirar

Se a Sr.ª quiser a gente mede a pausa na régua

Depois de muita saliva gasta

Pra convencer a Saudade de ir embora

Muito discurso e contra-argumento

Concluí, não tem jeito

Desisti do convencimento

Então fica, Sr.ª Saudade

Só não vá muito se demorar

Porque é tanta lembrança

Que o coração já se contorce

Aperta e dá nó, quase faz me sufocar

Caroline Campos
Enviado por Caroline Campos em 04/06/2018
Reeditado em 04/06/2018
Código do texto: T6355707
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