afoga dor

ela participava de um congresso em São Paulo

e eu fiquei por aqui, longa semana essa.

às 6:30 da manhã, minha cama me agarrava;

quase impossível sair dali e encarar o emprego.

quando faz frio, a moto carburada sofre,

puxo o afogador e deixo que esquente um pouco.

ainda assim, ela bebe menos do que eu.

o vento apenas insiste pra que eu volte pra cama.

ela estava lá, em São Paulo

e não aqui, para puxar meu afogador.

quando faz frio, acabo sofrendo um pouco.

ela sempre me esquenta, insiste que eu volte pra cama.

me encosto na grade, acendo um cigarro

e espero a hora de entrar e sofrer.

sim, sofrer! porque o tempo passa enroscado

enquanto ela está em São Paulo.

meu carburador é feito de um beijo novo,

é de um que me salva,

livrando das mágoas dos beijos antigos.

é que este me acende.

acende como acendo um cigarro.

fumaça quente, que conforta

e que insiste que eu volte pra cama

nesse frio que faz São Paulo.