Mulato solitário

Essa companheira enxuta muitas vezes o fez chorar!

Hoje ele vive no sertão num grande isolamento.

E não sabe quando vai acabar o seu sentimento.

Há muito tempo ele escreveu o seu nome,

Bem bonito no pé da majestosa figueira.

Não se contentou e também escreveu no braço da sua companheira.

Ao escrever no braço da sua amada,

Parecia que estava escrevendo no seu coração.

Seu nome marcante, imponente, sofreguidão!

Bela, cor de jambo, ele sabe que ela não sabe a dor que ele sente.

Não enxerga o tanto que esse caboclo a adora!

Moreno que só de pensar nela, cantando chora!

A vida desse matuto é como a de um passarinho,

Que cantando vive e voa faceiro!

Mas se ficar preso fica pesaroso e morteiro.

É assim que vive esse caboclo em sua querência.

Só tem ela por companhia, seu velho amor e mais ninguém.

Uma vida sem nada, só o amor e o seu bem.

Ele recorda sempre do tempo em que vivia alegre.

Cantando pelos campos, mais parecia canário no alpiste.

Mas hoje está muito mudado e muito triste.

Na varanda ele passa os fins de tardes no braço da sua amada.

Na sua choupana querida, de uma porta e uma janela,

O mulato passa seus dias acariciando a sua donzela.

Como lembrança, traz uma saia, uma conga e um cacharréu!

Diante de tantas recordações à tona debaixo da figueira,

Ele espera o sol se pôr, sob a cantiga do sabiá laranjeira.

Viola cabocla, viola sorrateira, viola manhosa.

Viola que todo o dia é abraçada sem piedade e nem dó.

Viola companheira fiel desse mulato de cafundó.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 16/03/2017
Código do texto: T5942670
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