Ida
Mãe
Naquele
Dia
Triste dia
Da sua ida
Lacerou em mim uma ferida
Despedida
Ainda doída
Úlcera aberta que nunca cicatriza
Afinal
Bem ao seu lado
Estava na sua partida
Como pode deixar-me
Para no céu ir morar
Aqui fiquei
Ainda meio sem lugar
Mãe Querida
Sei bem
Sua Infância
Foi sofrida
Criança caçula
Para o mundo se lançou
Esperta demais
Para o seu tempo
Audaz plano então
Arquitetou
Tenra já em mocidade
Louvor
Próprio
Mérito
Exclusivo assim se foi
Das cátedras da faculdade
Cedo tornou-se autoridade
Destino, escrito
Caminho cruzado
Incógnito espírito
Cheguei no seu colo
Pequenina alma
Dali vidas a serem
Para sempre emaranhadas
Meio embaralhado,
Meio Embaçado
Pouco entendi
Menos ainda compreendi
A estória de ora ser a filha obediente
Ora a mãe sapiente
Papéis misturados
Alternados
Em um mundo tão selado
Tão resguardado
Conjurado e fechado
Nada ameaçava
O nosso sossego conquistado
Apenas os tropeços da vida
Tornava-a brava,
Às vezes, brava até demais
De certo, houve tantos apertos
Sufocos e no final
Qualquer que fosse a carestia
Infernal e invernal
Acabávamos nós
Cada uma a seu turno
Dentro do carinho maternal
Dali das brumas assassinas Trajadas com charme e requinte
Vítima tornou-se
Da assassina nicotina
E o senhor do tempo
Não tardou
Não esperou
Das gotas do sofrimento
Logo a livrou
O céu dela se penalizou
Pela mão a levou
E quando sua alma
Seu corpo doente deixou
O sol poente se fez presente
E como se o pedido dela
Deus dele consente
A sua ida foi a sua despedida
Da forma por ela sempre pedida
Rodeada pelos seus entes
Ida, partida, despedida
Para mim ainda tão sentida ...