FICO

Recolho-me a casa, ora vazia e fria

rebusco nas gavetas antigas fantasias,

navego só dentro do meu universo

esbarro na tristeza destes versos!

Delatam os ponteiros as horas

é cedo reluto em ir embora!

Dançam no quarto imagens distorcidas

na sala resquícios de vidas indefinidas.

Sinto: o farfalhar de folhas no quintal,

da cozinha, da mesa farta, do natal,

do vento que ora maltrata a janela,

das crianças, presentes, da vida bela!

No corredor a rosa murcha no solitário,

longínquo sinos soam d'um campanário!

Abro a despensa: sobras emboloradas,

procuro nos cômodos a voz da amada!

Abro a porta do pequeno escritório

a água ainda escorre d'um lavatório

a máquina de datilografia está inerte

dos olhos uma lágrima saudosa verte!

No jardim: o mato toma conta das flores,

na garagem: tralhas e um pneu vazio!

Saudades: das cores, luzes, dos perfumes,

me agasalho, recordo, sinto frio...

Domingo Lage
Enviado por Domingo Lage em 11/08/2013
Código do texto: T4429405
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