Saudade
Por um minuto,
Desejaria nascer cego,
Renunciaria a beleza da lua,
Da natureza, a tua...
Para não trazer
Pintado em meus olhos
A lembrança do teu rosto.
Queria ser surdo,
Mesmo que isso significasse
Pássaros mudos, Bethania sem voz,
Assim, calaria
O eco do teu adeus,
Mataria o apetite
Da tua voz a suplicar
Os beijos meus.
Renunciaria ao cheiro do mar,
Das flores, aos mais doces aromas,
Abraçaria a síndrome de Kallmann
Para não recordar-te
Quando o vento veste
O teu perfume
E despe-me da certeza
De que não mais te quero,
Descobrindo que mesmo
Sem te querer, te espero.
Queria não sofrer com
A imensidão da cama
E a pequenez do meu amor próprio
Que desaparece quando
Você chama meu nome
E depois some,
Me abandona...
Eu não me acho,
Me desfaço,
Restos, pedaços...
Queria ser pássaro
Pra me perder e
E não te achar
Em todas as palavras,
Gestos, cheiros, sons, imagens...
Colher e queimar
Todos os versos que te fiz,
Que te faço,
Abandonados pelos caminhos,
Velhas miragens,
Sobras desse amor incompleto
Coroas de espinhos.