A Lenda das amendoeiras em Flor no Algarve

Eu desci a Serra do Caldeirão em Novembro de 1975, mas só em Fevereiro de 1976 início da Primavera eu pude apreciar a beleza das amendoeiras em Flor espalhas pelas encostas do Algarve a Barlavento. Um espectáculo natural que me serviu de inspiração para estes versos aqui embaixo. Porém antes quero vos contar a magia das lendas que me fascinam... 
Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos árabes, reinava em Chelb, a futura cidade de Silves, o famoso e jovem rei Ibn-Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota.
Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo.
Impressionado, o Rei Mouro deu-lhe a liberdade, conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher.
Foram felizes durante algum tempo, mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente.
Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A solução estava ao alcance do rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras que, quando florissem as suas brancas flores dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada da sua saudade.
Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo e a princesa sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão indiscritível das flores brancas que se estendiam sob o seu olhar.
O rei mouro e a princesa viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor. 
A Primavera vai e volta ao ano!... a Mocidade vai e não volta mais... Só as obras ficam eternamente! 

De: S.S. Potêncio...Lembranças da Primavera do Algarve! 
Das amendoeiras em flor,
Eu tenho mil recordações...
Lá perdi um grande amor,
Que me levou p'ras minhas emigrações!
Do Algarve pequenino,
Verde, verde em sonhos vi...
Um futuro de menino,
Pelo muito que lá li!
Eram livros da biblioteca
Ambulante ou viajeira...
De tarde eu dormia um soneca
Só p'ra ler a noite inteira!
E dois anos se passaram,
Do Alvor a Monte Gordo,
De Sines até me chamaram...
Mas caí que nem um tordo!
Em Março ainda bem cedo,
Do Alto do Caldeirão...
A serra desci sem medo,
E flores eu vi de montão.
Espalhadas na planura,
Das terras que vão dar à Praia...
Amendoeiras da minha amargura,
Mostram-me... segredos da tua saia!
Silvino Potêncio - Algarve/1976


(in: Poesias Soltas - Autor: Silvino Potêncio)
Original publicado em: http://zebico.blog.com (desactivado em Maio 2016) 
 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 03/09/2010
Reeditado em 12/10/2019
Código do texto: T2475779
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