LAGO DOS ENGANOS
No lago dos enganos, antes tão claro,
Deparei a minha imagem refletida na água,
E como quem se despe por inteiro
Das roupas desbotadas pelo tempo,
Manchadas de vinho tinto estragado,
Nas mãos juntei todas as flores da mágoa
Que de causar tanto e tamanho sofrimento
Ao triste coração não se fartava jamais.
Decidido a ficar livre esgueirei-me sorrateiro
Para a beira mais escura do lago imundo,
E lancei na água parada que me refletia
Todos os espinhos que me cravou o mundo.
No vento brando que o coração sentia
Já não havia o mesmo tormento de antes,
Mas um confortante sentimento de paz
Que naquele momento me era o bastante.