PENUMBRA
Na penumbra percebo um rosto,
Não sei a sua origem,
Nem o seu destino;
Um rosto com traços humanos!
Não sei se emite uma cor definida,
Ou se absorve todas as cores do espectro;
Se vive na flor da idade,
Ou se já viveu muitos anos!
Percebo reflexos de amor
Em seus olhos melodiosos,
E lágrimas sonoras inundando
O poço do silêncio aterrador!
Percebo gritos de socorro
Em contraste com gritos de adoração;
Palavras agonizantes procurando
Palavras simpatizantes na penumbra
Para morrerem juntas em comunhão!
Uma voz doce demandava ouvidos
Onde pudesse abrandar os gritos;
Era a voz esperançosa da paz,
Soando no vazio como prece;
Buscava na multidão de vultos,
De todos os recantos e tempos,
Ouvidos abertos, acolhedores,
E retornava ao rosto, desolada,
Moldando em seus lábios, amargurada,
Gestos de desgosto profundo, indecisos,
Cansada de cantar para a plateia
De um mundo belicoso, amante
Do canto heroico dos vencedores;
De um mundo feito de ouro e diamante,
Que não sabe o valor do sorriso!