Colega de trabalho

Dizem que sou louco por falar tanto sozinho.

Falo com meus botões,

onde a solidão comprime.

Falo com meus botões

para não sufocar,

como se fossem me escutar,

gritar ao vento

o que me envenena.

Uma vida em pedras,

onde o que foi me ensinado

é ser forte a todo custo.

Não me ensinaram tantas coisas,

talvez amar, não aprendi

ou tentei entender

essa linguagem sem forma

que se aprecia ao sentir.

Sou forte e digo para mim mesmo

para não esquecer.

Será que pegadas deixei?

Talvez, já não tenho mais tempo

para fazer da vida um rascunho,

voltar e fazer diferente,

falar ao pé do ouvido

sentimentos verdadeiros que me calei.

Tento correr, tento ter pressa,

admiro quem de oportunidade

pode tirar proveito.

Hoje, não sou jovem,

também velho não me considero.

Às vezes, um pouco ranzinza,

mas também tenho qualidades.

O tempo já me tirou os cabelos

e no espelho os grizalhos posso ver.

No espelho, não sinto as forças indo embora,

mas sei o quanto fui forte para chegar onde cheguei.

Nesse espelho tão sincero, compreendi que o melhor da vida é sentir,

mesmo que a razão, por tantas vezes, queira encobri-lo.

E ainda que a velhice me tome de súbito,

e que eu despreze o contar dos dias,

agradeço a Deus pela vida e elevo minha fé,

aprendendo a cada dia.

E como diz o velho poeta:

'O tempo não existe, só existe o passar do tempo.'"