Eu vi Waly Salomão

O ano era mil novecentos e noventa e oito

e pouco.

E tanto que minha mochila de tempo engasgou

na estradinha de Tiradentes – São João Del Rey.

Festival de cinema inaugural,

tarde dourada estática

na bota e na testa.

Eu vi Waly Salomão.

O maior vapor barato não foi o filme estrangeiro,

a casa de cultura nova trincando na tinta,

os pseudointelectuais arrotando falácias

depois do angu e do torresmo

de minha terra de poeira e conjura.

Desconjuro!

O melhor foi Waly Salomão

bêbado de cachaça e tédio

no barzinho do centro cultural de sei lá quem.

Bêbado de poesia Poesia,

gritada para os patetas cinematográficos,

às vetustas de carmesim

e aos ignorantes de casaca de vidro.

Estava como que em seu escritório jequieense,

se é que tinha um de escombros e farpas baianas,

carpas doidivanas.

Danem-se as convenções!, vociferava.

Depois nas ruas quebradas,

barrocas evocações desenhadas nas pedras,

pimentas nos bugalhos,

ressacas sagradas,

e o sírio surgindo de um beco impossível,

sumindo adiante num lançar de dados mallarmeniano.

Sua risada ficou ecoando em meu assombro até o fim da viagem.

Eu vi Waly Salomão

e a noite pôde despencar sossegada.

O poeta sobrepuja observações.